Marmita japonesa é exemplo de economia e saúde

Marmita japonesa é exemplo de economia e saúde

Marmita japonesa é exemplo de economia e saúde
Pequena, colorida e nutritiva, a refeição é preparada com muito carinho. Nutricionista explica que busca da beleza na comida revela tentativa de equilibrar a alimentação.

Tóquio, cidade que transformou o caos de concreto, gente e neon em marca registrada. Mas, no meio da loucura urbana, como aproveitar bem a hora do almoço e se alimentar bem, de forma saudável? A resposta: praticidade. Pode chamar também de bentô. Em bom português: marmita.

As marmitas japonesas são sempre bonitas, coloridas e organizadas, como se fossem uma escultura ou uma pintura.

A lógica por trás disso é que temos que olhar para a marmita e ter uma certa pena de destruir o trabalho que foi feito com tanto carinho. Então, comemos apreciando as cores, provando cada um dos sabores. No fundo, tem pouca comida. Mas comemos tão devagar, com tanto prazer, que no fim está totalmente satisfeito.

Nas lojas de departamento, as caixas aparecem em vários formatos e preços. Algumas custam o equivalente a mais ou menos R$ 20. Feito em casa, então, é quase uma aula de economia e saúde. Uma arte passada de geração para geração.

Akiko Suenaga é secretária em uma empresa brasileira em Tóquio. O riso é sempre fácil, ainda mais quando encontra a amiga para almoçar. Em uma bela praça de Tóquio vira um piquenique.

Antes de Akiko abrir a caixinha, ela disse que estava um pouco envergonhada porque estava um pouco bagunçada, meio desordenada. Mas tudo estava absolutamente perfeito e bonito.

“Quando entramos na escola, temos que preparar o bentô. No meu caso, comecei por volta dos 12 anos. Quando faltava alguma coisa, o verde, por exemplo, minha mãe via e falava que eu tinha que por algumas coisa verde, como vegetais. Ela fiscalizava”, lembra Akiko.

A cientista de alimentos Glaucia Pastore, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fez parte do doutorado no Japão. Ela explica que, para os japoneses, essa busca da beleza na comida revela, no fundo, uma busca por equilíbrio na alimentação.

“Hoje se sabe que quanto mais colorido [o prato] mais chances de ter substâncias de interesse presentes. Então, recomendamos que no nosso próprio país a criança aprenda a misturar e ter muitas cores no prato”, diz Glaucia Pastore.

As pequenas Fernanda e Rafaela ainda não fazem o próprio bentô, mas a mãe, a psicóloga Gisélia Oda, virou uma especialista desde que a família se mudou para o Japão, há quatro anos. É só o que elas levam para a escola.

“Como elas são as únicas crianças brasileiras na escola, eu procurei fazer como as mães japonesas, para que elas não se sentissem diferentes. Aqui no Japão, as crianças gostam do bentô bem coloridinho. Acho que isso motiva as crianças a querer se alimentar melhor”, comenta Gisele, que prepara uma carinha com os alimentos para as filhas.

No bentô das crianças, além do arroz, vão tomatinhos coloridos, um ovo de codorna, brócolis, vagens de soja e duas salsichinhas.

“Se, por acaso, a professora enxergar uma marmita que não esteja colorida, ela vai reclamar porque a criança não vai querer comer. Então, como a professora tem que fazer as crianças se alimentarem bem, para ela é mais fácil que a criança já abra o bentô e se alimente sozinha. Minhas filhas adoram”, conta Gisele.

Acostumadas desde pequenas, as meninas brasileiras gostam de uma comida que para muitos pode parecer sem gosto.

“É preciso dizer que, na cultura japonesa, o que faz bem vem na frente do que é mais saboroso ou mais gostoso. Eles têm consciência de que é preciso tomar alimentos que tenham realmente alguma propriedade interessante do ponto de vista funcional”, diz Glaucia Pastore.

“A nossa parte é comer com gosto. Você pega o brócolis e come com gosto. Quando seu filho olhar, vai querer experimentar. Acho que o hábito alimentar depende muito do hábito dos pais”, comenta o psicólogo Daniel Oda.

Para manter a tradição aprendida com a mãe e a avó, Akiko precisa se organizar, preparar a comida para a semana inteira no domingo.

Ela explica por que prefere a comida feita em casa. “Aqui no Japão é muito caro comer fora e também não é muito saudável, porque a comida é muito salgada e tem química”.

Akiko prepara bacalhau com cogumelos no forno elétrico. E, na frigideira, alguns legumes chineses, que ela mistura com tofu, o queijo de soja. “Usamos óleo de gergelim, que veio da China, para dar cheiro. Misturamos tudo”, diz.

Japonesas tiram dos alimentos substâncias que substituem hormônios
Gergelim, peixe, cogumelos. A nutricionista Tsukiko Hattori, uma das maiores especialistas japonesas, mostra os alimentos que estão sempre na marmita do país.

Boa parte dos produtos usados nas alimentação japonesa vem da soja. O missô é a base da sopa. O tofu é o queijo de soja.

“A soja tem isoflavonas semelhantes ao hormônio feminino, o estrogênio. Ajuda principalmente quem está na menopausa e evita que as mulheres tenham calores nessa época da vida”, explicou Tsukiko Hattori.

A professora explica que a maioria das mulheres japonesas não usa hormônios artificiais porque recebe tudo o que precisa da comida.

A gordura dos peixes tem ômega-3, uma substância que aumenta a capacidade cognitiva do cérebro, facilitando o aprendizado e ajuda a proteger contra doenças cardíacas, Parkinson e Alzheimer.

As algas, que também são muito consumidas pelos japoneses, existem de vários sabores, cores e texturas. A professora Hattori explica por que a alga faz bem para o organismo. “Por causa da religião, os japoneses foram proibidos de comer carne e a deficiência de cálcio na população é grande. Por isso, os jovens e os idosos precisam comer algas, pois só com as verduras eles não conseguem suprir as necessidades diárias de cálcio”.

O chá verde está em todas as refeições. “Certa vez fizemos um aniversário aqui e compramos muitos refrigerantes, porque no Brasil compra-se muito. Percebemos que as mães não deram refrigerante e as crianças pediram chá”, conta Daniel Oda.

Akiko nem pensa em tomar outra bebida para acompanhar o bentô. “Comida japonesa com suco ou refrigerante é péssimo, porque muda o sabor. Com o chá verde, eu sinto o sabor da comida. Também tem vitaminas, é mais saudável”, diz.

A professora Hattori aconselha o consumo de um litro de chá verde por dia. “Os japoneses tomam o chá verde o dia inteiro. Tem bastante vitamina C, fortifica os ossos e também ajuda a emagrecer”, ressalta.

É fácil beber chá verde toda hora no Japão porque a bebida é encontrada em qualquer lugar, até em máquinas automáticas na rua. É só colocar uma moedinha para ter chá verde gelado e quente. Mas há outras coisas deliciosas que se pode para fazer com chá verde e uma delas vende-se em uma barraquinha: sorvete de chá verde – um jeito delicioso de cuidar da saúde.

 

Fonte: g1.globo.com/globoreporter

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